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Volta a ONU do Lula e do Brasil

Atualizado: 26 de set. de 2023

A Organização das Nações Unidas (ONU) é uma das mais importantes instâncias internacionais, onde os países do mundo se reúnem para discutir questões globais e buscar soluções para os desafios que enfrentam.


A ONU como instituição internacional não possui (ao contrário da crença popular) a hegemonia global, nem pode exercer soberania plena nos assuntos internacionais, atuando muitas vezes como mero foro de discussões ou mediador onde se busca o consenso internacional e cuja ação é limitada pela cessão de soberania dos estados membros. Ou seja, a ONU somente pode atuar nas áreas nas quais os países membros cederam parte de sua soberania interna, não havendo uma força coercitiva de fato dentro do órgão, à exceção do Conselho de Segurança.


Acreditar que a ONU é uma espécie de superpotência que impõe seu veredicto ao resto do mundo é um erro frequente, já que de fato ela não é o hegemon internacional, mas um espaço internacional de diálogo e negociação, tanto que na mesma existem representações de países e territórios que não sempre participam do sistema financeiro global ou da comunidade internacional tal e qual a conhecemos, como no caso da Cuba ou Coréia do Norte, mas que ainda assim estão presentes na mesma.


O Brasil, desde sua entrada na organização, tem desempenhado um papel significativo na cena internacional, e ao longo das décadas, sua trajetória na ONU tem sido marcada por momentos importantes e decisões cruciais.


Há 20 anos atrás, Luiz Ignácio Lula da Silva, atual presidente do Brasil, deu seu primeiro discurso na ONU, o ex-sindicalista foi amplamente aplaudido pelo seu discurso em relação ao combate a pobreza, a fome e a desigualdade, assim como sua defesa do multilateralismo e das relações Sul-Sul, voltando no passado dia 19 de setembro de 2023, após 14 anos desde seu último discurso e depois de enfrentar uma ingente perseguição política e acusações de corrupção, que o levou a ser preso e depois libertado após o cancelamento de seu julgamento pelo Supremo Tribunal Federal ao haver provas do conluio entre o então juiz e ex-ministro de Bolsonaro, Sergio Moro e a promotoria, além da deturpação e construção de provas em contra do atual presidente com o intuito de lhe afastar do cenário político conforme julgamento do STF em benefício dos implicados e do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro.


Lula voltou a discursar como presidente do Brasil, encerrando um ciclo de engessamento na ação internacional do país diante da postura isolacionista e negacionista do governo anterior que marginalizou o Brasil dos principais foros e negociações internacionais.

Vejamos um pouco sobre o papel do Brasil nas Nações Unidas e detalhes do aguardado discurso do presidente.


Um Marco Histórico: O Brasil como Primeiro Orador na Assembleia Geral


O Brasil ingressou na ONU em 1945, ano de sua fundação, e desde então tem desempenhado um papel fundamental nas deliberações da organização. Um marco notável na história da participação brasileira na ONU foi quando o país teve a honra de ser o primeiro a discursar na Assembleia Geral em sua sessão inaugural. Esse gesto simbólico demonstra o compromisso do Brasil com os ideais de cooperação e paz global.


Desde então o Brasil é sempre o primeiro país a abrir a sessão, papel este já desempenhado por Lula, Fernando Henrique, Dilma Rousseff, Michel Temer e Jair Bolsonaro.


A Arte brasileira na Sede da ONU


Além de seu papel diplomático, o Brasil também deixou sua marca na sede da ONU através da arte. Os murais "Guerra e Paz" de Candido Portinari decoram o Palácio da Paz, em Nova Iorque, simbolizando a aspiração da organização pela paz mundial. Essas obras de arte são um testemunho da contribuição cultural do Brasil para a ONU. Este elemento é importante ao analisar o discurso do presidente Lula que relembrou o real intuito da ONU e o papel do Brasil na mesma, fazendo uma homenagem ao Brasileiro, Sérgio Vieira de Mello que morreu no exercício de suas funções no órgão.


Também cabe destacar o papel do Brasil nas relações Sul-Sul e na defesa dos Direitos Humanos participando ativamente nas missões de Paz da ONU e liderando a mesma no Haiti, assim como seu papel de liderança nas questões climáticas e de preservação mas ao mesmo tempo advogando por um comércio mais justo entre as nações e reais chances de desenvolvimento humano e social.


O discurso de Lula


Sem dúvidas, a palavra chave deste discurso foi “Desigualdade”, Lula ressaltou o papel das Nações Unidas na promoção da paz e alertou sobre os conflitos que foram negligenciados pelos membros devido aos interesses das grandes potências, fazendo um gesto em relação a continuidade da Guerra Fria no conflito da Ucrânia, ressaltando o papel do Brasil como promotor da paz e não do conflito, lembrando do papel defasado do conselho de Segurança (no qual o Brasil sempre desejou ser membro permanente) e como este se declina aos interesses particulares das nações membros e denunciando o duplo discurso dos países da assembléia que falam de paz, mas cujo investimento no setor bélico é substancialmente superior aos da promoção da paz e diplomacia.


Lula foi muito assertivo ao declarar que os países membros das Nações Unidas deveriam se preocupar mais com a paz do que promover o conflito, além de trazer a discussão o orçamento da ONU cujo maior contribuinte são os Estados Unidos.


Também em seu discurso, Lula falou da desigualdade no mundo e de como esta tem sido utilizada pelo sistema neoliberal, aprofundando as assimetrias dos países e minado ao multilateralismo, provocando o surgimento de correntes radicais de extrema direita, que usam os imigrantes e as populações minoritárias como causantes de um problema que o próprio sistema gerou, fazendo sem dúvidas uma alusão ao ocorrido no Brasil durante o governo bolsonarista, mas também ao crescente conservadorismo das nações européias.

Lula ressaltou o papel das instituições no combate a desigualdade e a problemáticas sociais tais como a xenofobia, lgbtfobia e demais minorias, além de falar sobre a crescente precariedade laboral.


Um dos pontos mais importantes do discurso de Lula foi a defesa do multilateralismo e das negociações SUL-SUL mencionando a importância dos BRICS (Cuja ampliação atual supera em pib ao G20) como uma tentativa dos países emergentes a ganhar voz e peso nas decisões globais, assim mesmo falou do ponto mais importante quando se trata de Brasil no cenário internacional, que foi a preservação da Selva Amazônica, ressaltando não somente a importância das metas de meio ambiente compactuadas pelas nações, mas também a dupla moralidade das nações mais desenvolvidas em relação a necessidade de promover o desenvolvimento da região de forma sustentável.


Lula discursou como um verdadeiro estadista que defende os valores das Nações Unidas e que não baixará sua cabeça por interesses econômicos e geopolíticos externos a sua nação, reiterando a necessidade de um trabalho em conjunto de todas as nações e convocando a todas a recordar o real intuito que levou a criação da ONU.


O ponto mais polêmico de Lula foi em relação a defesa da soberania de Cuba, refletindo a decepção internacional em relação ao presidente americano Biden na abertura comercial da Ilha (conforme já havia assinado Obama) e de como as classificações geram a marginalização de determinado países, não pelo regime político mas por interesses geopolíticos.


A repercussão do discurso


Após o discurso de Lula, o líder brasileiro se reuniu com o presidente da Ucrânia mantendo a postura pragmática do Brasil em relação ao conflito, sem atacar ao seu parceiro econômico dos BRICS, a Rússia.


Em geral o discurso de Lula foi aplaudido pela comunidade internacional, principalmente devido a sua postura pragmática e sua defesa do multilateralismo , luta contra a desigualdade e meio ambiente, e de vías alternativas para o desenvolvimento com a devida implicação das potências, por outro lado, alguns meios denunciaram o fato do Brasil não se posicionar em relação a Guerra da Ucrânia e dessa forma se alinhar aos anseios da OTAN.


Porém não podemos cercear o discurso de Lula, pois o Brasil voltou a emitir sua voz dentro do cenário global, exercendo o peso de uma potência regional que anseia soluções e não mais conflitos sem sentido, onde a pauta da política externa é o bandwagoning com elementos do distanciamento pragmático, que nos remete a postura da nação em relação a Guerra do Iraque onde Lula ao ser convidado por Bush a fazer parte da ofensiva lhe disse “Minha guerra é contra a fome” e o Brasil ressaltou que sua guerra atual não é contra uma nação, não é por interesses geopolíticos das grandes potências, mas contra a desigualdade que arrasa o mundo, inibe o desenvolvimento, incrementa as assimetrias, ataca ao meio ambiente, culpa ao inmigrante, ataca as minorías, com o único objetivo de acumular mais e mais o poder em um mundo que está definhando.



Wesley SáTeles Guerra, formado em Negociações Internacionais pelo Centre de Promoció Econômica del PratdeLlobregat (Barcelona), Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília, Pós-graduado em Ciências Políticase Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Políticade São Paulo, MBA em Marketing Internacional pelo Massachussetts Institute of Business, MBA em Parcerias Globais pelo ILADEC, Mestrado em Políticas Sociais com especialização em Migrações pela Universidade de ACoruña(Espanha), Mestrado em Gestão e Planejamento de Cidades Inteligentes(Smartcities) pela Universitat Carlemany(Andorra) e doutorando em Sociologia e Mudanças da Sociedade Contemporânea Internacional. Professor,articulistaeespecialista:wesleysateles@hotmail.com

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