Introdução:
Silvio Berlusconi é um dos políticos mais emblemáticos e controversos da história moderna da Itália. Durante seus mandatos como primeiro-ministro, ele deixou uma marca indelével na política e na sociedade italiana. Este artigo examinará a gestão de Berlusconi, suas políticas e o impacto duradouro que teve no governo italiano, bem como a situação política no país após seu governo.
O Governo de Silvio Berlusconi:
1.1 Ascensão ao poder:
Berlusconi, um magnata dos negócios e líder do partido Forza Itália, assumiu o cargo de primeiro-ministro da Itália pela primeira vez em 1994. Sua plataforma política prometia reformas econômicas, combate à corrupção e uma abordagem empresarial para a política. Sua habilidade em se comunicar diretamente com o público italiano e sua presença midiática lhe renderam popularidade entre os eleitores dando início a uma nova era do populismo na União Europeia que seria replicado em outros países, acrescentando as reconhecidas técnicas de manipulação social novas tecnologias e o uso de canais de televisão e a construção da pós-verdade. O que dizia o líder italiano para muitos era inquestionável, já que seu discurso ecoava nos meios de telecomunicação como uma realidade tangível.
1.2 Políticas e realizações:
Durante seus mandatos, Berlusconi implementou várias reformas e políticas, incluindo reformas tributárias, liberalização econômica e uma postura firme em relação à imigração. Ele também buscou fortalecer as relações internacionais da Itália e melhorar sua imagem no cenário global. Havendo uma etapa de crescimento econômico e posterior recessão herdada por outros governos, muitas vezes justificada de forma equivocada aos fluxos migratórios em lugar dos diversos escândalos de corrupção e investigações contínuas aos membros de seu governo.
1.3 Controvérsias e críticas:
A gestão de Berlusconi também foi marcada por uma série de controvérsias e escândalos. Ele enfrentou acusações de corrupção, conflitos de interesse e abuso de poder. Sua influência nos meios de comunicação italianos levantou preocupações sobre a liberdade de imprensa e a independência dos meios de comunicação, muitas vezes questionadas pela própria União Européia. O fato de possuir a sede da Igreja Católica (ainda que sendo um Estado Independente), e que na época se alinhava ao discurso de Berlusconi, ampliava seu poder de captação social, promovendo uma relativização em relação às políticas sociais européias em solo italiano, provocando uma divisão social perceptível até a atualidade e duas áreas bem definidas na Itália, uma face urbana e moderna, frente a outra rural e conservadora, uma nortista e rica, outra sulista e empobrecida.
Pós-Berlusconi:
Após a saída de Berlusconi do cargo de primeiro-ministro em 2011, a Itália enfrentou uma série de desafios políticos e econômicos. Vários governos sucediam-se, cada um enfrentando dificuldades para lidar com a dívida pública, o baixo crescimento econômico e a instabilidade política, assim como os reflexos da Crise Financeira de 2008 que para então havía se transformado na Crise do Mediterrâneo.
A Dívida Pública italiana superava a totalidade do PIB do país e as divisões sociais que antes mantinham no poder uma força hegemônica, diante da imposição da austeridade fiscal, foram afetadas de diferentes formas o que produziu um quadro político fragmentado e um estado de anomia social, que permitiu o aumento do discurso neofacista, fundamentados em uma apologia a pátria e ao conservadorismo, repudiando não somente as políticas europeias, como todos os elementos sociais não tradicionalmente italianos tais como os imigrantes e refugiados.
2.1 Fragmentação política:
A política italiana tornou-se caracterizada pela fragmentação, com uma multiplicidade de partidos políticos emergindo e a formação de coalizões frágeis. A falta de uma maioria estável no parlamento dificultou a implementação de reformas e a governabilidade eficaz.
2.2 Desafios econômicos:
A Itália enfrentou desafios significativos em relação à sua economia, incluindo altos níveis de dívida pública, baixo crescimento econômico e desemprego persistente. A falta de consenso político sobre medidas econômicas eficazes complica os esforços de recuperação e reforma.
2.3 Mudanças políticas e busca por estabilidade:
Nos anos recentes, houve uma crescente demanda por estabilidade política na Itália. O Movimento 5 Estrelas, um partido anti-establishment, emergiu como uma força política significativa, prometendo reformas e combate à corrupção. No entanto, a formação de coalizões e a busca por uma liderança política unificada continuam sendo desafios.
Conclusão:
A gestão de Silvio Berlusconi na Itália deixou um legado complexo e controverso. Enquanto seu governo implementou algumas reformas econômicas e buscou melhorar a imagem internacional da Itália, ele também enfrentou críticas por sua conduta pessoal e conflitos de interesse. Ainda assim, o crescimento econômico dos seus primeiros mandatos manteve uma hegemonia no país que foi aos poucos desenvolvendo as assimetrias que hoje dividem a Itália.
Após seu mandato, a Itália enfrentou desafios políticos e econômicos persistentes, com a busca por estabilidade e reformas continuando a ser prioridade para os líderes políticos do país e levando a vitória ao partido de extrema-direita com um discurso semelhante ao de algumas lideranças latinas, onde a pátria era um valor máximo, a aversão às políticas sociais e de igualdade uma base ideológica e a xenofobia uma justificativa da situação do país.
Buscaram culpados e heróis… algo muito semelhante e que já vimos que não deu muito certo neste lado do oceano.
Bibliografia:
Ginsborg, P. (2004). Silvio Berlusconi: Television, Power, and Patrimony. Verso Books.
Bosco, A., & Verney, S. (Eds.). (2014). Political Leaders and Democratic Elections. Oxford University Press.
Newell, J. L. (Ed.). (2010). Silvio Berlusconi: Prime Minister of Italy. Palgrave Macmillan.
Diamanti, I., & Ruzza, C. (2003). Italy: Divided We Stand. Oxford University Press.
Wesley Sá Teles Guerra, formado em Negociações Internacionais pelo Centre de Promoció Econômica del Prat de Llobregat (Barcelona), Bacharel em Administração pela Universidade Católica de Brasília, Pós-graduado em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, MBA em Marketing Internacional pelo Massachussetts Institute of Business, MBA em Parcerias Globais pelo ILADEC, Mestrado em Políticas Sociais com especialização em Migrações pela Universidade de A Coruña (Espanha), Mestrado em Gestão e Planejamento de Cidades Inteligentes (Smartcities) pela Universitat Carlemany (Andorra) e doutorando em Sociologia e Mudanças da Sociedade Contemporânea Internacional. Atuou como paradiplomata e especialista em cooperação internacional e smartcities para a Agência de Competitividade da Catalunha (ACCIÖ – Generalitat de Catalunya), atualmente é colaborador sócio do Instituto Galego de Análise e Documentação internacional (IGADI) e do Observatório Galego da Lusofonia (OGALUS), Também participa como coordenador da área de Economia, Ciência e Tecnologia do CEDEPEM – UFF. Idealizador e diretor do CERES – Centro de Estudos das Relações Internacionais, membro do Smart City Council, do IAPSS International Association for Political Sciences Studentes, do Consório Europeu para a Pesquisa Política, REDESS, Centro de Estratégia e Inteligência das Relações Internacionais e colaborador da ANAPRI. Autor dos livros”Cadernos de Paradiplomacia” (2021) e “Paradiplomacy Reviews” (2021) além de participar do livro “Experiências de Vanguarda, no ensino nos países lusófonos” publicado em 2021 pelo CLAEC e organizado pela Dra. Cristiane Pimentel. Professor, articulista e especialista: wesleysateles@hotmail.com
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