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Groelândia: interesse norte-americano expõe a grande importância estratégica da região

Foto do escritor: CERESCERES

Luis Augusto Medeiros Rutledge

Geopolítica Energética


Nos últimos anos, a Groelândia vem ganhando crescente destaque no cenário global não somente pelos derretimentos extremos de geleiras e impactos climáticos. O significado geopolítico da maior ilha do mundo disparou após Donald Trump, presidente reeleito dos Estados Unidos, declarar o interesse em assumir o controle da região localizada no Ártico.


É possível entender o crescente interesse e envolvimento de potências estrangeiras nos últimos anos nesta ilha congelada. Localizada no Círculo Polar Ártico, a Groelândia está estrategicamente posicionada em rotas mais curtas que conectam América do Norte, Europa e Ásia, sendo esta ilha a rota mais curta da Europa para a América do Norte. Os fatores climáticos que estão derretendo o gelo, tornam o Ártico ainda mais interessante para o transporte marítimo e consequentemente mais valioso. Vale lembrar que a ilha possui imensas quantidades de terras-raras, urânio, zinco, chumbo e reservas consideráveis de petróleo e gás natural, insumos energéticos estratégicos. Sobre as questões energéticas, o governo local, liderado pelo partido verde de esquerda Inuit Ataqatigiit, proibiu a extração de petróleo e gás natural para não aumentar os efeitos negativos das alterações climáticas. O atual governo da Groelândia pretende explorar forte potencial da energia hidrelétrica e viabilizar a região para armazenar CO₂.


A Groelândia sempre foi de interesse de potências como Estados Unidos, China e Rússia, que buscam expandir sua presença econômica e militar na região. Recentemente, a ilha ganhou enorme destaque após Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, confirmar o interesse em assumir o controle da região. Em especial para o atual governante dos EUA, é crucial que nenhuma outra grande potência ganhe acesso facilitado às rotas marítimas da Groelândia. Os norte-americanos pretendem garantir o domínio destas águas internacionais e garantir o controle marítimo entre a Groenlândia, Islândia e Grã-Bretanha e, assim, bloquear a circulação de navios de guerra russos e submarinos nucleares.


Interessante o presidente Donald Trump afirmar veementemente não acreditar em transição energética e em mudanças climáticas que afetem o derretimento das geleiras. A preocupação do novo mandatário da Casa Branca com as rotas do Ártico está relacionada diretamente com o aumento das temperaturas globais.


O aumento do transporte marítimo no Ártico, que cresceu em torno de 37% nos últimos dez anos segundo dados do Conselho do Ártico, reflete o impacto direto das mudanças climáticas na região. A rota que conecta o Atlântico ao Pacífico através do Ártico é um exemplo crucial dessa mudança.


De fato, em termos de geopolítica estratégica a Groenlândia desempenha um importante papel no corredor Groenlândia-Islândia-Reino Unido. Esse corredor é um ponto de estrangulamento essencial para navios que pertençam à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e que desejem transitar do Oceano Ártico ao Atlântico, sendo, portanto, um local crítico para a segurança e controle marítimo na região. O objetivo de Trump é inviabilizar o corredor para navios russos e chineses e, assim, enfraquecer o poder comercial e militar da aliança não ocidental.  


Países membros da OTAN, compartilham uma forte aliança que reforça a presença ocidental no Ártico, assegurando que a Groenlândia permaneça uma peça-chave na estratégia de defesa e comércio marítimo do Atlântico Norte.

 

A investida norte-americana na ilha não é novidade. Em 1946, com o início da polarização mundial e o surgimento da Guerra Fria, o presidente Harry Truman tentou comprar a ilha que considerava um ativo estratégico naquele momento global. Hoje, a história se repete. Talvez menos diplomática.


Seja por interesses em seus recursos naturais ou por sua rota estratégica, a Groelândia deverá ser pauta permanente de futuras muitas disputas geopolíticas.  Estima-se que o Ártico abrigue 13% das reservas mundiais não descobertas de petróleo e 30% de gás natural, o que torna o controle sobre a Groenlândia uma vantagem significativa para acessar esses recursos.


No campo do mercado internacional, à medida que o gelo do Ártico derrete, surgem novas rotas extremamente vantajosas para o comercio internacional. A abertura de rotas marítimas mais curtas entre a Ásia, a Europa e os Estados Unidos, reduzindo custos e tempo de transporte tornando os custos finais de mercadorias e peças mais baixos que através de outras rotas e competitivos com o preço chinês. Essas rotas, antes bloqueadas pelo gelo, tornam a Groenlândia ainda mais valiosa como um centro estratégico para comércio e defesa.


Expressando a exatidão e a realidade dos fatos, o foco principal e talvez único de Trump e de outros países ocidentais seja somente as rotas marítimas e não os materiais críticos da geração de energia limpa.


A Lei de Recursos Minerais da Groenlândia permite que empresas de qualquer país solicitem licenças de exploração e extração, desde que atendam aos requisitos estabelecidos pelas autoridades locais. Na ilha, a exploração mineral não obriga que as empresas estejam domiciliadas no país onde operam. Essa dinâmica é observada na concessão de licenças, no entanto, a participação de empresas americanas tem sido limitada, indicando uma menor presença e interesse dos EUA no setor mineral da ilha, apesar das oportunidades abertas.


Somamos a isso, o fato de os Estados Unidos possuírem grandes recursos minerais que podem ser explorados para a mineração de matérias-primas críticas, incluindo grandes depósitos de metais de terras raras.


Concluindo, os EUA não ficarão mais ou menos seguros dominando as águas do Ártico. Nem tão pouco, a estabilidade global será sustentada se a ordem da soberania for jogada fora conforme os interesses geopolíticos. Mesmo com a importância da região do Ártico, ameaçar um aliado da OTAN, sem o apoio de países europeus, parece uma opção arriscada que pode causar um isolamento geopolítico no mundo cada vez mais multipolar.


Referência 



Luis Augusto Rutledge. Eng. Petróleo e Analista Geopolíticco
Luis Augusto Rutledge. Eng. Petróleo e Analista Geopolíticco

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