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Entrevista a Vitor Ierusalimschy - Português para alunos estrangeiros Universidade Fed. Fluminense

Atualizado: 26 de set. de 2023

Helena Andrade Teixeira Azevedo


A temática de cooperação e intercâmbio do corpo discente e docente de universidades ao redor do mundo é um tema extremamente atual e por muitas vezes esquecido dentro do campo de estudos das Relações Internacionais. O tema abrange diversas áreas e projetos que buscam em conjunto fomentar o conhecimento através das trocas culturais por programas de mobilidade. Dentro do universo lusófono este é ainda um tema muito rico e cheio de programas interessantes em plena atividade.


Assim, esta entrevista é uma publicação que forma parte do Especial Lusofonia publicada no dia 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, em uma parceria do CERES com a JUPLP e o IGADI. Por isso, eu resolvi conversar sobre o ensino de português para estrangeiros com o Vitor Ierusalimschy. O Vitor é servidor da Universidade Federal Fluminense, atuando como chefe de setor de Projetos Educacionais da Superintendência de Relações Internacionais. Ele é responsável pelo setor de acolhimento dos estudantes estrangeiros interessados em realizar períodos de intercâmbio na UFF e, por isso, ele foi convidado para apresentar o projeto de programa português para estrangeiros da UFF.


Durante a entrevista, o Vitor apresentou o programa de Português para Estrangeiros que acontece desde 2015 na UFF – Universidade Federal Fluminense. A proposta é oferecer o ensino de português localmente a fim de fomentar o fluxo de mobilidade para a universidade e para o Brasil. O projeto é procurado tanto por estudantes que desejam iniciar os estudos idioma, por aqueles que querem aperfeiçoar o conhecimento e, para quem deseja também obter certificação específica para solicitação de nacionalidade e outros procedimentos burocráticos.


O programa possui modalidades intensiva e regular e pode ser cursado no modelo virtual ou presencial. Inclusive, sobre o modelo virtual o Vitor, nosso entrevistado, destaca que:


“(...) uma coisa que é muito interessante, que durante o período da pandemia em que estavam impossibilitados os fluxos de mobilidade física, nós desenvolvemos muito fortemente a oferta dos cursos de maneira virtual. Então, enquanto a universidade estava impossibilitada de receber alunos para a mobilidade acadêmica, nós tivemos um número grande de alunos que participou remotamente dos nossos cursos de português, mantendo ativo os nossos convênios, nossas parcerias com universidades estrangeiras e capacitando esses alunos para, no momento futuro pós pandemia, eles poderem vir a UFF no fluxo tradicional de módulos, modalidade física mesmo”.


O projeto, portanto, desde que começou nunca parou. A UFF é uma universidade membro da ULP - Associação de Universidades de Língua Portuguesa -, e é considerada um centro de treinamento de docentes para ensino de português para estrangeiros graças ao trabalho das professoras Adriana Leite do Prado Rebello e Sirlene de Souza Sanson.


Assim, a proposta da entrevista é apresentar o projeto e alguns temas importantes a fim de que outras universidades lusófonas possam replicar o programa. O Vitor ressalta ainda a importância de se ter profissionais especializados em ensino de língua estrangeira:


“É um projeto que é replicável, mas torno a dizer é necessário ter uma equipe, pelo um docente que seja ou que tenha um treinamento específico para essa questão do ensino do português para estrangeiros, porque são técnicas de ensino muito específicas para você ensinar um idioma para alunos de qualquer nacionalidade, de qualquer cultura, que falem múltiplos idiomas nativos. E as aulas são sempre conduzidas em português, então tem técnicas avançadas específicas nesse sentido. E a UFF ela tem essas duas docentes que eu citei, a professora Adriana e Sirlene, e elas têm uma disciplina da graduação que é ofertada para alunos do curso de Letras em geral e que queiram realmente se aperfeiçoar nesse sentido. Existem programas de pós-graduação também, então tem um foco muito grande nesses tipos de treinamento. Ele é um programa replicável sim, mas tem que ter esse cuidado específico com o treinamento da docente também”.


Para ouvir a entrevista na íntegra e descobrir mais sobre o programa e outras propostas em atividade na UFF acesse o áudio abaixo:


Links relevantes:

http://international.uff.br/

https://centrodelinguas.uff.br/ppe/

https://centrodelinguas.uff.br/celpe-bras/

http://prolem.uff.br/portugues-para-estrangeiros/


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Helena Azevedo - [00:00:00]

Olá, bom dia, boa tarde e boa noite para quem possa estar escutando. O meu nome é Helena, eu sou redatora voluntária pelo CERES RI - Centro de Estudos de Relações Internacionais -, nós somos um think tank multidisciplinar que tem como objetivo divulgar estudos de alunos, ex-alunos, professores e pesquisadores da área de Relações Internacionais. Esta tal entrevista vai integrar o Especial Lusofonia, que será publicada no dia 5 de maio, Dia Mundial da Língua Portuguesa, em uma parceria do CERES com a JUPLP e o IGADI. Por isso hoje eu vou conversar sobre o ensino de português para estrangeiros. E para isso está aqui comigo o Vitor Ierusalimschy. O Vitor é servidor da Universidade Federal Fluminense, atuando como chefe de setor de Projetos Educacionais da Superintendência de Relações Internacionais. Ele é responsável pelo setor de acolhimento dos estudantes estrangeiros interessados em realizar períodos de intercâmbio na UFF e, por isso, ele foi convidado para apresentar o projeto de programa português para estrangeiros da UFF. Oi, Vitor, tudo bem?


Vitor Ierusalimschy: [00:01:00]

Olá a todos e todas! É um prazer estar aqui hoje falando do nosso projeto de português. Antes da gente começar com as perguntas, eu queria só fazer uma menção a todos os membros que integram essa equipe que tornam esse projeto uma ação muito bem sucedida, muito consolidada na nossa universidade. Então, um agradecimento especial às professoras Adriana Leite do Prado Rebêlo, professora Sirlene de Souza Sanson, que conduzem essas ações enquanto docentes que fazem o treinamento capacitação dos nossos discentes para o ensino de português para estrangeiros. Agradecimentos também à professora Lívia Reis que o superintendente de Relações Internacionais, Adriana Milward de Andrade Maciel, que é a chefe do setor de mobilidade de projetos como um todo e vice superintendente. Então, é toda uma equipe voltada para essa questão de consolidar esse tipo de projeto, então gostaria de deixar aqui meu agradecimento a todos.


Helena Azevedo: [00:01:53]

Obrigada por estar aqui hoje. Obrigada pela presença e pela disponibilidade. Então vamos lá: Conta pra gente primeiro quando começou o programa e qual é a proposta inicial dele?


Vitor Ierusalimschy: [00:02:03]

Sim, então eu vou falar basicamente do programa de ensino de português para estrangeiros que nós organizamos para os alunos de mobilidade internacional na Universidade Federal Fluminense, na UFF. Basicamente, a ideia é oferecer o ensino da língua para alunos que querem estudar conosco por um ou dois semestres. A proposta original da criação desse curso tem muito a ver com a demanda que nós observamos desde sempre para fluxos internacionais de mobilidade acadêmica. A questão linguística sempre é uma questão, digamos, um obstáculo. De certa forma, no Brasil, tanto para enviar alunos que tem que ter um nível de proficiência mais altos, conhecimento de segundas, terceiras línguas, quanto para receber, porque a comunidade internacional não fala português tão amplamente, não é um idioma tão reconhecido no mundo como é o inglês, o espanhol, não é tão utilizado. Então, o oferecimento do ensino de português localmente é muito importante para fortalecer esses fluxos. O nosso programa começou no ano de 2015, com a contratação de dois docentes. Foi por volta do final de 2014 e início de 2015 para consolidar de fato a oferta contratação de duas docentes específicas especializadas no ensino de português para estrangeiros. Porque, é sempre importante ressaltar, é uma coisa que elas fazem muita questão de dizer: não é qualquer um que tem o conhecimento do treinamento para ensinar português para estrangeiro. É necessária uma especialização nesse sentido.


Helena Azevedo: [00:03:35]

Então, desde que o programa começou, você de fato consegue perceber que há interesse de alunos que não têm o português como idioma oficial, no programa, na proposta dele?


Vitor Ierusalimschy: [00:03:44]

Sim. O interesse é constante mesmo, mas tem vários níveis diferentes de interesse. Nós somos procurados no exterior por alunos que querem realizar o curso sem ter conhecimento nenhum no idioma. Então seria previamente à mobilidade acadêmica. Somos procurados por alunos que já tem conhecimento no idioma e que querem se aperfeiçoar, que querem alcançar um nível mais alto. Somos também procurados por pessoas que não são alunos de mobilidade, que são estrangeiros, que moram no Brasil, que têm interesse em fazer o curso para obter certificação específica para solicitação de nacionalidade e outros procedimentos burocráticos. Então, tem uma demanda muito grande no âmbito dos alunos de mobilidade acadêmica, tem todo semestre, os alunos participam do curso e vem estudar conosco. Então, só aí já percebe se que tem realmente um... eu digo todos os alunos, claro, os alunos, alunos de países falantes de língua portuguesa. Mas sempre tem um interesse grande. Eles vêm com diferentes níveis. Nós, para mobilidade acadêmica, exigimos que os alunos tenham pelo um nível intermediário por volta do nível A2. Não chega a ser intermediário ainda, iniciante ou “iniciante avançado”, digamos assim, o nível A2, conforme o Quadro Europeu Comum de Referência é B1. Mas aceitamos A2 também.


Vitor Ierusalimschy: [00:05:05]

Então eles vêm e já com um certo preparo. Mas eles participam do curso nas duas modalidades, porque para mobilidade acadêmica nós oferecemos o curso na mobilidade, intensiva, em que o curso tem duração de duas semanas, com aulas todo dia pela manhã. E o curso na modalidade regular que nós chamamos, que tem a duração de todo o semestre acadêmico. Esse curso acontece tanto para nível iniciante quanto para o avançado. A depender mais ou menos do nível dos alunos, do nível linguístico dos alunos que chegam, então sim, tem. Tem um interesse grande, constante. E uma coisa que é muito interessante, que durante o período da pandemia em que estavam impossibilitados os fluxos de mobilidade física, nós desenvolvemos muito fortemente a oferta dos cursos de maneira virtual. Então, enquanto a universidade estava impossibilitada de receber alunos para a mobilidade acadêmica, nós tivemos um número grande de alunos que participou remotamente dos nossos cursos de português, mantendo ativo os nossos convênios, nossas parcerias com universidades estrangeiras e capacitando esses alunos para, no momento futuro pós pandemia, eles poderem vir a UFF no fluxo tradicional de módulos, modalidade física mesmo.


Helena Azevedo: [00:06:15]

Interessante. O projeto realmente não parou.


Vitor Ierusalimschy: [00:06:18]

Não, nunca parou.


Helena Azevedo: [00:06:21]

Acha que é possível dizer então que o curso de português para estrangeiros chegou a aumentar a procura da UFF como destino de intercâmbio para esses estudantes que não tem a familiaridade com o idioma?


Vitor Ierusalimschy: [00:06:33]

É, a gente abriu portas. O curso de português, ele possibilitou novas oportunidades de internacionalização, principalmente durante esse período que a gente o ofertou remotamente. Porque uma questão que os alunos têm é que, se eles não têm o domínio linguístico do português, eles não se sentem seguros para vir fisicamente ao Brasil. Então, a realização do curso virtual é ideal nesse sentido, porque o aluno pode ter o estudo da língua, se preparar até adquirir a confiança linguística para que ele possa de fato vir ao Brasil presencialmente no semestre seguinte. Então, essa foi uma das portas para os alunos que ainda não tinham muita segurança para vir. E a outra oportunidade que foi aberta também foi com algumas redes de parceria. Nós estamos de parceria com a Rede Utrecht, uma rede europeia de múltiplas universidades para a qual nós oferecemos cursos de português exclusivamente para eles, também de modo a manter nossas relações ativas e também novamente capacitando alunos para a mobilidade física.


Helena Azevedo: [00:07:34]

Isso é muito bom, porque, de fato, mesmo que o aluno tenha nível A2, ou seja, ele já tendo um conhecimento no idioma, poderia desenvolver ele para seguir, talvez com os estudos. E isso faz toda diferença.


Vitor Ierusalimschy: [00:07:46]

Exatamente. Tem alunos que apresentam o certificado de A2, mas chegando aqui eles percebem que eles não têm tanta familiaridade com a língua. O período de adaptação é um pouco complicado. Então eles fazendo o curso online, eles já chegam bem mais preparados. Mas de qualquer forma, também tem os cursos presenciais. Em algumas semanas eles já estão mais seguros.


Helena Azevedo: [00:08:04]

Pois é, o convívio com o idioma quando é próximo, é real com as pessoas ali também faz toda a diferença. E sabendo antes melhor ainda, você já tem todo um “pré-preparo” na área antes de chegar. Eu sei que em paralelo nós temos ainda Fala Mundo, um projeto também de engajamento entre estudantes estrangeiros e brasileiros. Conta para a gente sobre isso.


Vitor Ierusalimschy: [00:08:28]

Então o Fala Mundo é um projeto que surgiu no modelo de Tele Tandem, que é a ideia da prática linguística em um ambiente um pouco mais informal ou um pouco menos acadêmico de conversas diretas entre falantes nativos do idioma. Então, ele foi desenvolvido juntamente com a equipe do Português para Estrangeiros, que vale ressaltar nessas duas professoras que eu mencionei que elas foram contratadas em 2014 e 2015. Elas são extremamente dedicadas ao ensino da língua portuguesa. Elas são, assim, fundamentais para existência de todos esses projetos. O engajamento delas é uma coisa rara de se ver. Elas realmente têm muita paixão por essa questão. São a professora Adriana Leite do Prado Rebello e Sirlene de Souza Sanson. Elas são, assim, fundamentais para o projeto. E elas atuam também com a coordenação do curso de Português para Estrangeiro em outros projetos de língua da universidade. E elas atuam com a coordenação da aplicação dos exames de proficiência Celpe-Bras [1]. Elas atuam com alunos do projeto PEC-G[2], que também é uma coisa muito bacana. Eu posso falar um pouquinho depois sobre isso. Então, elas são assim, um elemento essencial. Elas que trouxeram essa ideia de a gente trabalhar no modelo de Tele Tandem. Nós abraçamos, desenvolvemos esse projeto que se chama Fala Mundo e a ideia é bem simples: a gente pareia um aluno nativo falante do português com um aluno estrangeiro, falante, nativo de alguma outra língua que o aluno local também fale e colocamos eles para dialogar, para interagir por conta própria. A proposta é que os encontros tenham duração de 01h00 e nessa uma hora, trinta minutos sejam falados em português, 30 minutos sejam falados na língua nativa do outro aluno, de modo que todos possam praticar um pouco o idioma em um ambiente de conversa e desenvolver assim a questão linguística de uma maneira mais orgânica, mais fluida também.


Helena Azevedo: [00:10:18]

E, claro, uma troca também é muito bem-vinda, fomenta o interesse.


Vitor Ierusalimschy: [00:10:22]

Exatamente. O projeto ele continua existindo e ele é muito atrelado à mobilidade. Então, basicamente, a oferta que nós temos são dos alunos de mobilidade que vem para UFF, que querem participar. Agora nós estamos tentando integrar também mais o programa PEC-G, que eu mencionei. Então tem um pouco essa questão de a gente ampliar para a comunidade internacional, que faz parte da UFF, mas ele sempre existe enquanto há fluxo de mobilidade.


Helena Azevedo: [00:10:48]

Você quer falar um pouquinho mais do PEC-G?


Vitor Ierusalimschy: [00:10:50]

Sim, claro. Então no geral, ele é um programa que existe desde os anos 70, é uma parceria do governo brasileiro, do MEC e do MRE, em parceria com governos de outros países do Sul econômico global. Então, é justamente a ideia de alunos de outros países virem a UFF, virem a universidades brasileiras em geral, realizar a graduação plena, obtendo diploma e retornando ao seu país de origem para contribuir localmente. Ele é um programa que é muito bem-sucedido e muito consolidado. Múltiplas instituições federais participam. E o aluno PEC-G, ele não necessariamente tem que ter o conhecimento prévio do português. Então mesmo quando ele não tem, ele é aprovado no programa e ele vem ao Brasil e realiza um curso de português para estrangeiros ao longo de um semestre em uma universidade pública nacional. Após esse curso, eles realizam o exame de proficiência do Celpe-Bras e aí eles são alocados na instituição onde eles de fato farão a graduação, que não é necessariamente a mesma. Então, a UFF é um centro que recebe esses alunos que são chamados de “pré-PEC”. Há inclusive uma discussão se o termo “pré-PEC” é correto, porque eles já estão de fato fazendo o PEC, né? Alguns gostam de chamar de “pré-Celpe”. Eu acho que é válido, sim, exatamente porque é antes do exame de proficiência. Mas nós recebemos então, alunos “pré-PEC” ou “pré-Celpe”. Nesse, nesse semestre atual, nós estamos recebendo cerca de 20 alunos, algo assim. Então é um fluxo também constante, que também é o ensino da língua portuguesa acadêmica. E é um ensino bem aprofundado, porque eles têm que, de fato, fazer um exame de proficiência. Depois, para permanecer no programa PEC, eles têm que ter um nível ao menos de B2, se eu não me engano. Então eles têm que ter um nível intermediário avançado. Então tem um foco muito grande nessa questão também.


Helena Azevedo: [00:12:41]

Perfeito. É, eu conhecia pouco do PEC-G, então quem talvez queira saber mais também sobre, eu deixo alguns links relevantes no final da nossa conversa. E falando ainda sobre o foco aqui, que é o português para estrangeiros, de fato o curso. Você tem conhecimento de outras universidades no Brasil, que também tem algum tipo de programa parecido com esse?


Vitor Ierusalimschy: [00:13:09]

Sim, muitas universidades públicas federais têm cursos de português para estrangeiros... O tamanho, a dimensão do curso variam de instituição para instituição. Mas como eu estava citando aqui o programa, para que esses alunos que fazem o pré-PEC ou pré-Celpe, eles vão para múltiplas universidades. Então todas essas universidades possuem um corpo técnico acadêmico que é treinado para o ensino de português para estrangeiros. Eu tenho conhecimento de que na UnB é uma equipe bem consolidada. Eles recebem muitos alunos nesse sentido desse programa. E existindo a estrutura do português para estrangeiros na universidade, eu imagino que ela se expanda também para alunos de mobilidade. Então, é algo que existe de fato em universidades públicas. E é do meu conhecimento no Rio de Janeiro que, a PUC Rio, tratando de universidades particulares, também tem um programa forte de ensino de português para estrangeiros, e eles recebem muitos alunos. Eles têm um curso bem extenso nesse sentido, mas é diferente dos cursos das universidades públicas pois ele é um projeto pago, né? Então afeta um pouco o público-alvo também.


Helena Azevedo: [00:14:15]

E fora do Brasil, você sabe se algum outro país lusófono tem algum programa semelhante?


Vitor Ierusalimschy: [00:14:20]

Realmente eu não sei.


Helena Azevedo: [00:14:23] Mas fica a dica, né?


Vitor Ierusalimschy: [00:14:24]

Fica a dica. Eu acredito que as universidades membras da ULP - Associação de Universidades de Língua Portuguesa -, todas têm uma estrutura nesse sentido, a UFF ela é membro da ULP e nós temos um convênio de parceria institucional que recebemos alunos, enviamos alunos para outras universidades, membro. Então, todas para entrarem nessa instituição tem que ter um foco, pelo menos na questão do ensino da língua portuguesa. Então elas provavelmente têm seus respectivos programas também.


Helena Azevedo: [00:14:55]

Eu acredito que seja possível, de qualquer forma, exportar esse modelo de projeto para outras universidades, certo? Então acho relevante tanto para as pessoas não terem conhecimento do idioma, aperfeiçoarem quanto pela cultura também. E quando você tem contato com o idioma, a gente acaba também tendo contato com o melhor autores da literatura, até a música, né? São ótimos meios também de apresentar o idioma.


Vitor Ierusalimschy: [00:15:18]

Sim, sim. É um projeto que é replicável, mas torno a dizer é necessário ter uma equipe, pelo um docente que seja ou que tenha um treinamento específico para essa questão do ensino do português para estrangeiros, porque são técnicas de ensino muito específicas para você ensinar um idioma para alunos de qualquer nacionalidade, de qualquer cultura, que falem múltiplos idiomas nativos. E as aulas são sempre conduzidas em português, então tem técnicas avançadas específicas nesse sentido. E a UFF ela tem essas duas docentes que eu citei, a professora Adriana e Sirlene, elas têm uma disciplina da graduação que é ofertada para alunos do curso de Letras em geral e que queiram realmente se aperfeiçoar nesse sentido. Existem programas de pós-graduação também, então tem um foco muito grande nesses tipos de treinamento. Ele é um programa replicável sim, mas tem que ter esse cuidado específico com o treinamento da docente também.


Helena Azevedo: [00:16:19]

A gente já está encerrando por aqui a nossa conversa, mas eu queria te fazer uma última pergunta. Talvez você saiba apresentar algo sobre, mas você acha que os estudantes, eles costumam achar o português um idioma difícil?


Vitor Ierusalimschy: [00:16:33]

É, a gente tem essa percepção. Porque línguas latinas em geral são bem complexas, a estrutura gramatical, linguística, mas varia muito a depender do idioma nativo do aluno. Alunos hispanohablantes falam português sem nenhum problema em um mês, dois meses. Alunos vindos de países como o Japão, como a Alemanha, que tem sistemas linguísticos bem diferentes, eles levam um pouco mais de tempo para se adaptar. Quando a gente pergunta, todos eles dizem que não é fácil, mas que a imersão faz muita diferença.


Helena Azevedo: [00:17:06]

É.


Vitor Ierusalimschy: [00:17:07]

As técnicas utilizadas são também muito importantes. Eles dizem que o treinamento que eles têm linguístico aqui é muito diferente de quando eles estudam português nos seus países de origem. Tanto que, como eu falei, eles apresentam declaração de conhecimento na língua e às vezes, realmente o nível deles é um nível intermediário pela certificação. Mas na utilização cotidiana da língua não é a mesma coisa. Então, a aula local, ela tem uma diferença muito grande nesse sentido.


Helena Azevedo: [00:17:35]

E costuma até ser mais bem aplicada ao caso concreto, talvez os alunos possam encarar melhor no dia a dia e isso faz diferença, com certeza. Bom, muito obrigada, Vitor, por compartilhar tanto com a gente sobre o programa. A gente espera que talvez outras universidades brasileiras ou estrangeiras possam também se inspirar com a proposta e fomentar o intercâmbio de idiomas e conhecimento da língua portuguesa, que é a proposta do nosso especial aqui. Bom, para quem quiser mais informações, eu vou deixar alguns links úteis dos site de sites oficiais da UFF aqui no final. Então gostaria de agradecer a todo mundo que escutou a gente até aqui. E obrigada Vitor, pela disponibilidade. E é isso, até a próxima!


Vitor Ierusalimschy: [00:18:14] Agradeço a oportunidade também.



Helena Andrade Teixeira Azevedo, Internacionalista formada pela Universidade Federal Fluminense com ênfase em Gestão de Projetos e Políticas Públicaspela Fundação GetúlioVargas. Analista, pesquisadora e redatora com interesse nas áreas de comunicação política, cooperação internacional e direitos humanos. Atualmente atua como Analista de Proteção de Marcas pela React,organização internacional sem fins lucrativos. Membrodo CERES.


Links relevantes:


[1] O Certificado de Proficiência em Língua Portuguesa para Estrangeiros (Celpe-Bras) é o exame brasileiro oficial para certificar proficiência em português como língua estrangeira. Mais informações disponíveis em: https://www.gov.br/inep/pt-br/areas-de-atuacao/avaliacao-e-exames-educacionais/celpe-bras. [2] Programa de Estudantes-Convênio de Graduação (PEC-G).

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