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Diplomacia Digital no Século XXI: Desafios e Oportunidades para as Relações Internacionais na Era da Informação

A Era da Informação teve início nos anos 60 do século XX, caracterizando-se actualmente por uma convergência de tecnologias numa rede integrada, que transformou radicalmente o ambiente comunicacional. Este fenómeno impõe um elevado dinamismo, exigindo que todos os actores sociais se ajustem continuamente à mudança. Este artigo analisa as principais oportunidades e desafios que a diplomacia digital apresenta no século XXI, explorando o seu impacto nas dinâmicas das relações internacionais.


A diplomacia, enquanto prática de mediação e gestão das relações internacionais, tem evoluído ao longo dos séculos, adaptando-se a novas realidades políticas, sociais e tecnológicas. No século XXI, com o avanço acelerado das tecnologias digitais, assistimos à emergência de uma nova forma de interação entre os Estados e outros actores globais. Esta transformação reflete-se no uso crescente de redes sociais, plataformas online e ferramentas de big data para promover a comunicação, construir consensos e resolver conflitos no palco internacional. 


Tradicionalmente, a diplomacia tem sido vista como método, processo ou instrumento para a execução da política externa de um país. Do ponto de vista do Estado, Barston (2019), diz que consiste em “aconselhar, dar forma e implementar a política externa”.


Já Smith (1999), diz que a diplomacia consiste em proteger os interesses nacionais por meio de uma comunicação contínua e estruturada entre governos, nações e outros actores. O seu propósito é influenciar atitudes e comportamentos, com o intuito de alcançar consensos e solucionar questões. Trata-se, essencialmente, de uma prática baseada na persuasão. A partir da afirmação de Smith, algumas conclusões podem ser extraídas sobre a natureza e o papel da diplomacia:


  1. Diplomacia como uma ferramenta de defesa de interesses nacionais: A diplomacia é apresentada como um meio pelo qual os Estados defendem os seus interesses. Isso implica que, em qualquer processo diplomático, o foco principal é proteger e promover os objectivos nacionais, sejam eles de natureza política, económica, ou de segurança.


  1. Troca sustentada de informações: A diplomacia envolve a comunicação contínua entre governos, nações e outros atores, sugerindo que o processo diplomático depende da partilha de informações e do diálogo permanente. Esta troca é essencial para a compreensão mútua e para evitar mal-entendidos ou conflitos.


  1. Mudança de atitudes e comportamentos: O objectivo final da diplomacia é influenciar as atitudes e comportamentos das outras partes envolvidas, com o intuito de alcançar consensos ou resoluções. Isso mostra que a diplomacia vai além da simples negociação; envolve persuasão e a criação de um ambiente favorável para a cooperação.


  1. Resolução de problemas e busca de acordos: A diplomacia é descrita como um meio de resolução de problemas, sugerindo que o diálogo e a negociação são os caminhos preferidos para resolver conflitos ou diferenças entre nações. O propósito é atingir acordos mutuamente benéficos.


Um exemplo prático que ilustra a definição de diplomacia como "a prática da persuasão" e a defesa dos interesses nacionais por meio da troca sustentada de informações foi o Acordo Nuclear com o Irão (2015), negociado entre o Irão e potências globais como os EUA, China, Rússia, e a União Europeia. As partes envolvidas trocaram informações durante longas negociações para persuadir o Irão a limitar o seu programa nuclear em troca do levantamento de sanções económicas, promovendo a segurança internacional.


No âmbito da diplomacia digital, as interações e comunicações entre os diversos agentes são facilitadas e aceleradas. A diplomacia digital emerge como uma das estratégias cruciais em um mundo globalizado, marcado pela ampla utilização de ferramentas digitais, como a internet. Essas ferramentas exercem um impacto significativo em vários aspectos da política internacional, elevando a importância das estratégias de comunicação. Assim, a diplomacia digital abrange actividades diplomáticas que ocorrem por meio de canais digitais, como redes sociais, plataformas de mensagens instantâneas, websites governamentais e outras tecnologias de informação e comunicação. 


A diplomacia digital, permite uma comunicação em tempo real e de alcance global, quebrando barreiras tradicionais e tornando os processos diplomáticos mais acessíveis e transparentes. Governos, organizações internacionais e até indivíduos desempenham hoje um papel activo na construção de narrativas e na condução de diálogos multilaterais através de plataformas digitais. Contudo, este novo paradigma também traz consigo desafios significativos, nomeadamente no que diz respeito à segurança cibernética, à propagação de desinformação e à desigualdade digital entre as nações.


As ferramentas digitais desempenham um papel fundamental na forma como os actores internacionais se relacionam e trocam informações. Redes sociais como Twitter, Facebook e Instagram tornaram-se plataformas essenciais para os líderes políticos e diplomatas, permitindo que se comuniquem directamente com o público global. Essa interação não apenas democratiza a informação, mas também proporciona uma nova forma de soft power, onde a persuasão e a imagem pública são geridas de maneira mais eficaz.


A diplomacia digital também envolve a utilização de plataformas de mensagens instantâneas e aplicativos, como o WhatsApp e o WeChat, que permitem uma comunicação mais informal e rápida entre líderes e representantes de diferentes países. Este novo ambiente digital promove um diálogo mais acessível e transparente, podendo, por vezes, substituir ou complementar os canais diplomáticos tradicionais. A rapidez da comunicação digital também é crucial em situações de crise, onde a capacidade de resposta imediata pode fazer a diferença na gestão de conflitos ou na coordenação de esforços em situações de emergência.


Além disso, a diplomacia digital tem um impacto significativo nas estratégias de comunicação em vários níveis da política internacional. As nações estão cada vez mais atentas ao poder da narrativa digital e à importância de gerir a percepção pública. Campanhas de desinformação, que se propagam rapidamente através das redes sociais, representam um desafio que as diplomacias contemporâneas precisam enfrentar. Nesse contexto, a análise de dados e o monitoramento da opinião pública tornaram-se ferramentas valiosas, permitindo que os governos ajustem suas estratégias de comunicação de acordo com as reações do público e o cenário global.


Neste sentido, a diplomacia digital não é apenas um conjunto de ferramentas tecnológicas, mas uma abordagem abrangente que redefine as práticas diplomáticas. Ela abrange actividades como a gestão da comunicação em crises, a promoção de políticas públicas e o engajamento da sociedade civil, criando um espaço onde a interação é bidirecional. 


Por fim, a diplomacia digital destaca-se como um fenômeno em constante evolução, exigindo que os diplomatas e os Estados se adaptem a um ambiente em que a comunicação digital é cada vez mais central. À medida que a tecnologia avança, novas oportunidades e desafios surgem, tornando essencial a capacitação contínua dos profissionais de relações internacionais para navegar neste novo cenário. A capacidade de utilizar eficazmente as ferramentas digitais para alcançar objetivos diplomáticos poderá determinar o sucesso das estratégias de política externa no século XXI.


No contexto da China, a diplomacia digital refere-se à abordagem adoptada pelo governo para alcançar os seus objectivos diplomáticos por meio de ferramentas digitais e tecnológicas, como foi o caso do uso do WeChat. Esta estratégia visa estabelecer relações com outros países, moldar a opinião pública internacional, promover a sua imagem e transmitir mensagens através de plataformas digitais, como redes sociais, websites governamentais e aplicações. A China emprega o WeChat não apenas como uma ferramenta de comunicação interna, mas também como um meio de diplomacia digital. O governo utiliza essa plataforma para se conectar com líderes estrangeiros, promover a sua agenda política e disseminar informações sobre suas políticas e iniciativas, especialmente em países africanos e da Ásia.


Vários líderes mundiais, como o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdoğan, usaram o Twitter para comunicar directamente com o público e outras nações. Através dessas plataformas, eles divulgavam políticas, anunciavam decisões e interagiam com a opinião pública, moldando narrativas e influenciando a percepção internacional. Nestas circunstâncias, o Twitter foi como uma ferramenta de comunicação diplomática.


Durante a pandemia da COVID-19, muitos países usaram plataformas digitais para coordenar respostas globais e partilhar informações sobre saúde pública. Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde (OMS) utilizou mídias sociais para disseminar dados, informações sobre vacinas e boas práticas, ajudando a moldar a resposta internacional à crise de saúde. A diplomacia digital foi uma forma eficaz de resposta à pandemia.


Relativamente ao combate à desinformação, países como a Estônia têm liderado iniciativas de diplomacia digital para combater a desinformação e a manipulação nas redes sociais. Através da promoção da alfabetização digital e do uso de fact-checking, a Estônia tem trabalhado para fortalecer a resiliência da sua população contra as ameaças cibernéticas e as campanhas de desinformação.


 A UE tem utilizado plataformas digitais para promover diálogos e engajamento com cidadãos de todo o mundo. Iniciativas como o “Global Gateway”, que visa promover a conectividade e a sustentabilidade, utilizam as redes sociais para comunicar directamente com as populações e angariar apoio para as políticas da UE. 


Em suma, a Era da Informação tem transformado profundamente o panorama da diplomacia, introduzindo a diplomacia digital como uma ferramenta essencial nas relações internacionais contemporâneas. A capacidade de comunicação em tempo real, a utilização de redes sociais e outras plataformas digitais possibilitaram uma interação mais acessível e direta entre Estados e cidadãos, democratizando o fluxo de informação e permitindo um diálogo mais eficaz. Contudo, essa evolução não vem sem desafios, como a necessidade de combater a desinformação e proteger a segurança cibernética. À medida que as tecnologias digitais continuam a avançar, a adaptação a este novo ambiente será fundamental para os profissionais de relações internacionais, que devem equipar-se para lidar com a complexidade e a dinamicidade do cenário global. Assim, a diplomacia digital não é apenas uma tendência passageira, mas uma nova abordagem que redefine a forma como os países interagem, promovem suas agendas e buscam resolver problemas no século XXI.




Gomes Dias, nasceu e vive em Angola, na provínciade Luanda. É Secretário-Adjunto da Assembleia, da Juventude Unida dos País de Língua Portuguesa (JUPLP). É também membro associado júnior da Associação Angolana dos Profissionais de Comunicação Institucional (AAPCI), desde 05 de Junho de 2023. Finalista em Comunicação pela Universidade Agostinho Neto (UAN). Pesquisador autónomo. 

Redes sociais:


Johnson, A. G. (1997). Dicionário de Sociologia: Guia Prática da Linguagem Sociológica. Rio de Janeiro, Brasil: Jorge Zahar Ed.

Barston, R. P. (2019). Modern Diplomacy, Fifth Edition, London and New York: Routledge, 2019, p. 1.

Giddens, A. (2006). O Mundo na Era da Globalização. Lisboa: Editorial Presença.

Smith, G. S. (1999). Reinventing Diplomacy: A Virtual Necessity. Paper Presented at the International Studies Association Conference, Virtual Diplomacy: A Revolution in Diplomatic Affairs (18 February 1999). Consultado em 1 de Maio de 2008, em http://www.usip.org/virtualdiplomacy/publications/reports/gsmithISA99.html


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