top of page

Conservadorismo vs Progressismo

Foto do escritor: CERESCERES

No cenário hodierno político, duas correntes ideológicas se destacam e moldam os debates sobre o futuro das sociedades modernas: o conservadorismo e o progressismo. Cada uma delas, com raízes históricas profundas, apresenta visões distintas sobre como alcançar a estabilidade social e promover o desenvolvimento humano. Enquanto o conservadorismo defende a preservação dos valores e tradições que sustentam as instituições e a ordem social, o progressismo impulsiona a transformação por meio de inovações e reformas que visam construir uma sociedade mais justa e inclusiva. Neste artigo, exploro as origens, os fundamentos e as trajectórias dessas duas correntes, evidenciando não apenas suas diferenças, mas também os pontos de convergência que podem oferecer caminhos para um equilíbrio entre tradição e inovação no mundo actual.


Conservadorismo


É o principal defensor da manutenção dos valores sociais tradicionais, como a importância da família, os costumes herdados, a religião, a tradição e a comunidade. Assim, os conservadores opõem-se a qualquer ideologia ou movimento que pretenda romper com esses fundamentos. Os conservadores são cautelosos com inovações disruptivas, preferindo transformações graduais que respeitem o passado.


Sendo assim, acredita-se por meio dessa corrente de pensamento que a igualdade depende apenas do indivíduo, de seu esforço e competências.


Para o conservadorismo, a liberdade política, aliada à ordem social e moral, é indispensável para a construção de uma sociedade saudável. Assim, quaisquer transformações ou progressos devem ser implementados de forma cautelosa e gradual, garantindo a continuidade das instituições e evitando mudanças abruptas ou revoluções.


O desenvolvimento histórico do conservadorismo como sistema de ideias.


Historicamente, o conservadorismo desenvolveu-se em resposta às transformações sociais, políticas e económicas que marcaram a história europeia e, posteriormente, mundial. Esta vertente ideológica emerge como uma reação à revolução e à rápida modernização, defendendo a preservação dos valores e instituições que se consideram fundamentais para a estabilidade e continuidade da sociedade.


Suas raízes remontam ao período pós-Revolução Francesa, quando a agitação política levou à valorização da preservação das estruturas tradicionais, como a monarquia, a religião e os costumes históricos, em oposição às mudanças radicais promovidas pela revolução. Intelectuais como Edmund Burke criticaram a transformação abrupta, defendendo uma evolução orgânica da sociedade que valorizasse a tradição e a herança histórica como fontes de sabedoria acumulada.


No século XX, o conservadorismo passou a incorporar a defesa das liberdades individuais, da economia de mercado e do Estado mínimo, posicionando-se em contraste com o progressismo e as ideias socialistas. A ascensão de regimes autoritários e os traumas das guerras mundiais reforçaram a ênfase na ordem e na estabilidade como garantias para a paz social. Atualmente, o conservadorismo manifesta-se de diversas formas, desde a defesa de tradições culturais e sociais até à promoção de políticas económicas liberais, com uma constante ênfase na continuidade das instituições e na cautela face às mudanças abruptas.


Conservadorismo na actualidade


Actualmente, o conservadorismo manifesta-se de diversas formas, variando desde a defesa da preservação de tradições culturais e sociais até a promoção de políticas económicas liberais. Apesar das diferenças, um ponto comum entre as diversas correntes conservadoras é a ênfase na importância da continuidade e na cautela face às mudanças abruptas, acreditando que a estabilidade social depende da manutenção das instituições e dos valores que foram forjados ao longo da história.


De acordo com a análise de Mészáros (2002), os movimentos de extrema-direita encontram sua fundamentação ontológica e material na activação dos limites absolutos do capital, um processo que tem alimentado a crise estrutural desde a década de 1970. Este fenómeno manifesta-se na intensificação da exploração do trabalho, na tentativa de reverter a queda da taxa de lucro, no desemprego crónico e na crise ambiental de proporções catastróficas. Em contrapartida, as ideias conservadoras modernas tendem a valorizar a manutenção da ordem, da estabilidade e das instituições tradicionais, sem, contudo, necessariamente endossar os mecanismos radicais de exploração que caracterizam os movimentos de extrema-direita.


No cenário político global, movimentos de extrema-direita ou direita ultraconservadora têm ganhado força. Exemplos como Marine Le Pen na França ilustram esta tendência. As crises económicas, que levam à responsabilização dos imigrantes pelos problemas sociais, aliadas a cortes no Estado-providência, intensificam esse fenómeno. Além disso, a crise na democracia representativa, marcada pela perda de confiança nos partidos tradicionais, escândalos de corrupção e dificuldades em lidar com o sistema financeiro global, e os desafios da integração numa realidade multicultural têm contribuído para uma crise de identidade. Embora estes movimentos apresentem diferenças consoante os contextos nacionais, na Europa, por exemplo, muitos defendem o nacionalismo e a soberania, rejeitando as instituições da União Europeia.


No âmbito das inspirações ideológicas, os fenômenos de extrema-direita aproximam-se de tendências irracionalistas e refletem, em muitos casos, uma convergência daquilo que Coutinho (2010) denomina “a miséria da razão”. Este conjunto de influências demonstra que a cadeia causal que leva à emergência desses movimentos é complexa e multifacetada, não se restringindo apenas aos postulados do conservadorismo, mas envolvendo também respostas a crises profundas, como as impostas pelos desequilíbrios do capital. 


Progressismo 


É uma corrente ideológica que defende a promoção de mudanças sociais e políticas com o objectivo de alcançar uma sociedade mais justa e igualitária. Essa perspectiva valoriza a inovação, a modernização e a reforma das instituições para enfrentar problemas estruturais como desigualdades económicas, injustiças sociais e exclusões históricas. Historicamente, o progressismo tem raízes no Iluminismo, que enaltecia a razão e a ciência como ferramentas para o avanço humano, e evoluiu para incluir a luta por direitos civis, políticos e sociais, bem como a promoção de políticas que garantam uma maior proteção social por meio do Estado-providência.


Para os progressistas, o Estado deve desempenhar um papel activo na criação de condições que promovam a igualdade entre os indivíduos e entre as minorias sociais, bem como na salvaguarda das liberdades individuais.


Adicionalmente, os progressistas defendem a necessidade de romper com os padrões tradicionais, promovendo mudanças intensas e rápidas na sociedade que, segundo eles, terão impactos revolucionários e positivos, uma perspectiva que contrasta fortemente com o pensamento conservador, que valoriza a manutenção dos valores e estruturas existentes.


O desenvolvimento histórico do progressismo como sistema de ideias.


O progressismo emergiu do Iluminismo, movimento dos séculos XVII e XVIII, que se caracterizava pela convicção de que o progresso se daria através da razão humana, em detrimento da fé religiosa e dos valores morais tradicionais, o que abriu caminho para a crítica às estruturas de poder estabelecidas. Impulsionados sobretudo pelo avanço científico e tecnológico, os adeptos desta vertente acreditam que a liberdade e a igualdade são princípios fundamentais para a construção de uma sociedade justa.


No seio do Iluminismo, a crença de que a razão e a ciência eram ferramentas indispensáveis para o progresso levou a profundas mudanças nas esferas política, social e económica. Esse período marcou o surgimento de ideias que valorizavam os direitos individuais, a liberdade de expressão e a igualdade perante a lei, sentando as bases para as futuras transformações sociais e políticas.


Com o advento da Revolução Industrial, o progresso ganhou uma nova dimensão. O rápido desenvolvimento tecnológico e a modernização das indústrias impulsionaram mudanças significativas na organização social e económica. No entanto, esse mesmo progresso tecnológico também expôs profundas desigualdades e crises sociais, o que levou ao surgimento de movimentos que buscavam reformas para garantir uma distribuição mais justa dos benefícios da industrialização.


Durante os séculos XIX e XX, as ideias progressistas foram fundamentais para a conquista de direitos civis, políticos e sociais. As lutas por sufrágio universal, pelos direitos das mulheres e contra a discriminação constituíram marcos importantes desse período. Paralelamente, a emergência do Estado-Providência, que visava a proteger os cidadãos por meio de políticas sociais e económicas, consolidou o progressismo como uma força que busca não apenas a modernização, mas também a justiça social e a igualdade de oportunidades.


O progressismo na contemporaneidade


No mundo actual, o progressismo continua a influenciar a agenda política e social, defendendo a inovação, a inclusão e a expansão dos direitos humanos. A abertura para novas tecnologias, a promoção de políticas ambientais e a luta contra desigualdades sociais e económicas são exemplos das pautas que marcam o pensamento progressista contemporâneo. Em resposta aos desafios globais, os progressistas defendem a necessidade de reformas estruturais que integrem avanços científicos com medidas de justiça social, promovendo um desenvolvimento sustentável e inclusivo.


Ronald Dworkin é um autor emblemático no campo do progressismo, cuja influência moldou debates posteriores sobre direitos e justiça social. Dworkin critica o positivismo jurídico que predominava nos ambientes inglês e norte-americano entre o final dos anos 1970 e o início dos anos 1980. A sua abordagem fundamenta-se num liberalismo político robusto, que considera os direitos individuais como instrumentos essenciais para proteger as minorias contra a tirania da maioria.

Para Dworkin, esse liberalismo político forte tem um compromisso profundo com a igualdade. Na sua teoria da integridade, a igualdade não é apenas uma aspiração abstrata, mas um princípio que deve guiar os procedimentos e as decisões jurídicas, fundamentando-se em justificações morais. Isso significa que, para Dworkin, as instituições e as decisões que distribuam o poder e reconheçam as vulnerabilidades das minorias não devem tratar esses grupos como agentes separados, mas como parte integrante da própria comunidade. Cada indivíduo, segundo ele, é tão digno quanto qualquer outro e merece ser tratado com igual respeito (CHUEIRI, 2016a, p. 284).


O cenário político global actual evidencia a coexistência e, por vezes, a tensão entre duas correntes ideológicas fundamentais: o conservadorismo e o progressismo. Enquanto o conservadorismo defende a preservação dos valores tradicionais e a continuidade das instituições por meio de mudanças graduais, o progressismo impulsiona a transformação social com o objectivo de construir uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.


Ambas as abordagens surgiram em contextos históricos distintos e refletem respostas diferenciadas aos desafios e transformações das suas épocas. O conservadorismo, enraizado na preservação da ordem e na valorização da tradição, posiciona-se como um contrapeso à volatilidade das mudanças radicais. Em contraste, o progressismo, com suas raízes no Iluminismo e na revolução industrial, defende a inovação e a reforma das estruturas sociais para enfrentar desigualdades e promover os direitos humanos.


A obra de autores como Ronald Dworkin, que articulam um liberalismo político forte com um compromisso substancial com a igualdade, ilustra como os princípios progressistas podem servir de base para uma transformação que respeite a dignidade e os direitos de todos os cidadãos, especialmente das minorias. Ao reconhecer que a proteção dos direitos individuais e a distribuição equitativa do poder são essenciais para a justiça social, Dworkin evidencia uma perspetiva que, embora progressista, dialoga com a necessidade de continuidade e estabilidade defendidas pelo conservadorismo.


Em última análise, a chave para o avanço da sociedade reside no equilíbrio entre tradição e inovação. A integração dos ensinamentos do passado com a energia das reformas contemporâneas pode criar um caminho harmonioso para o desenvolvimento sustentável e inclusivo. Assim, compreender e articular as contribuições de ambos os campos é fundamental para enfrentar os desafios do mundo moderno, promovendo uma sociedade que valorize tanto a herança histórica quanto as oportunidades de transformação.



Gomes Dias
Gomes Dias

Gomes Dias, nasceu e vive em Angola, na provínciade Luanda. É Secretário-Adjunto da Assembleia, da Juventude Unida dos País de Língua Portuguesa (JUPLP). É também membro associado júnior da Associação Angolana dos Profissionais de Comunicação Institucional (AAPCI), Finalista em Comunicação pela Universidade Agostinho Neto (UAN). Pesquisador autónomo. 

Redes sociais:


Referência Bibliográfica 

COUTINHO, C, N. (2010). O estruturalismo e a miséria da razão 2. ed. São Paulo: Expressão Popular.

Johnson, A. G. (1997). Dicionário de Sociologia: Guia Prática da Linguagem Sociológica. Rio de Janeiro, Brasil: Jorge Zahar Ed.

MÉSZÁROS, I. (2002) Para além do capital: rumo a uma teoria da transição. Tradução Paulo Cézar Castanheira, Sergio Lessa. São Paulo: Boitempo.

CHUEIRI, V, K. (2016). Is there such thing as a radical constitution? In: BUSTAMANTE, Thomas; fernandes, Bernardo G. (Ed.) Democratizing constitutional law: perspective on legal theory and the legitimacy of constitutionalism. Switzerland: Springer, p. 233-245

Comments


NOSSOS HORÁRIOS

Segunda a Sábado, das 09:00 às 19h.

VOLTE SEMPRE!

NOSSOS SERVIÇOS

Siga nossas redes sociais!

  • Facebook
  • Twitter
  • YouTube
  • Instagram

O CERES é uma plataforma para a democratização das Relações Internacionais onde você é sempre bem-vindo!

- Artigos

- Estudos de Mercado

- Pesquisas

- Consultoria em Relações Internacionais

- Benchmarking

- Palestras e cursos

- Publicações

© 2021 Centro de Estudos das Relações Internacionais | CERESRI - Imagens By Canvas.com - Free Version

bottom of page